sábado, 29 de agosto de 2009

alguma coisa sobre mim...

vou quebrar o jejum de varar oito meses sem escrever uma linha sequer neste espaço virtual. vou escrever sobre o que estou sentindo, e espero que ninguém leia estas linhas, sob hipótese alguma. espero que tudo isto fique para sempre no esquecimento. afinal, o que eu sinto só interessa a mim, certo?

errado, Osete... já começaste errado, meu caro... não podes renegar os gostares alheios. neste mundo louco, Osete, os seres que vagam vagamente e sem vagar querem momentos de tranquilidade também, meu velho... e você, com esta paciência gigante, é o ser andrógino mais indicado para certas venturas...

por certo que ninguém sabe o que tu passas para manter o equilíbrio de ser tranquilo, vagaroso, contemplativo, ocioso... por certo que ningém tem tempo de devolver a leveza que tu inventas só para satisfazer os desejos efêmeros de teus mais caros amigos e amigas... por certo que ninguém consegue te agradar, haja vista que tu não és lá muito chegado a agrados, não é Osete?...

tu detestas receber presentes, não é? mas tu adoras dar! não é contraditório não, meu caro Osete? tu és capaz de passar o dia inteiro lembrando uma pessoa solamente pelo fato de esta pessoa estar aniversariando. e, quando fazes anos, tu procuras logo um desvão para se esconder dos felizes aniversários e dos parabéns...

tu és um sujeito ambíguo, tímido até a morte, medroso, solitário, mas tu consegues conquistar as pessoas tão fácil, Osete... e, de súbito, todos se sentem responsáveis por ti. e tu, que pareces ter um coração gigante, és capaz de amar loucamente uma pessoa durante muito tempo. tendo-a sempre por perto, mas incapaz de confessar qualquer sentimento. isto te faz mal, Luís... e tu, mais cedo ou mais tarde, experimentará o gosto amargo de ser assim. tu até já experimentastes. e confessas que, por conta disso, já morrestes ao menos três vezes...

e morrer, Luís, significa sair de cena. correr desesperado pelas sombras da noite, tendo o cuidado de não se esquecer em um recanto convidativo. entregar-se em braços errados, para compensar a frustração que é ser assim. frustração é a palavra mais fiel a isto, Osete... tu és um ser frustrado e, por isso mesmo, fraturado, fragmentado, despedaçado, precipitado...

um dia, Luís, ainda verei teu último pulo da ponte ou do precipício. teu encontro com as encantadas águas da ausência. tu que és sempre ausente, mesmo mergulhado nas situações mais marcantes da vida, e que se alimenta da falta. tu és um ser difuso, Osete...

reconheçamos: difícil entender-te. tu nunca dizes o que quer, tu nunca fazes o que realmente tens vontade. só para não falhar. só para não desagradar. por receio de, ao fazer isto, não manter a perfeição vazia que te recobre. a perfeição de não ser como todos os outros homens. a perfeição de ser fugidio, lírico, doce, suave...

mas tu és, muitas vezes, seco, Osete... como os vinhos que acompanham os banquetes que tu adoras dar às pessoas mais próximas. tua sequidão é desesperadora. tu não respeitas ou mesmo não entendes os sentimentos alheios. tu não respeitas ou não entendes teus próprios sentimentos. tu não sabes dissimular o óbvio. tu queres mergulhar profundamente, mas se tu não sabes ao menos submergir... valerá a pena mesmo viver assim, Osete?...

mais cedo ou mais tarde, tu sairás da vida para ficar na lembrança dos seres esquecidos. e tu a muito tempo achas que este dia está chegando. tu vives o sinal do fim dos dias. e nem assim tomas uma titude mais pró-ativa nesta vida. continuas apanhando diariamente. cada tapa mais forte do que o outro. cada decepção uma nova acepção sobre a vida. tu vives as auguras da segunda geração do romantismo, Osete? tu não superastes aquele sentimento de mal do século? logo tu, que se dizes tão contrário à exaltação do gênio individual?...

às vezes, Osete, eu penso seriamente em te abandonar para sempre, meu caro... eu gosto de ti. quer dizer, fui aprendendo a gostar deste teu jeito. simplesmente porque isto te dá uma aura: tu te tornas único e inimitável. e isto siginifica que tu nunca serás exemplo de nada. quem se mira em você não sabe o risco e o trauma que é ser Osete...

mas, ultimamente, Luís, tu tens atribuído tudo isto ao teu signo, né? tu achas justo esta determinação astrológica? por que não assumes logo sua própria responsabilidade em ser assim, hein Osete? por que não confessas logo as repressões que tu sofrestes em tua terna infância? por que pretendes renegar o que tu mesmo construístes? por quê?...

meu caro, tu não tens jeito não viu... de uma vez por todas: desisto! desisto de ti. e pretendo nunca mais retornar a este espaço. sobretudo para falar sobre você. tem muita coisa sobre ti, meu velho: tem o peso de uma existência ingrata...

desejo-te uma vida curta: de menos sofrimento e mais divagação...

um grande abraço,

...

sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

sobre a música

as palavras, quando musicadas, tomam uma outra dimensão. transcendem. nietszche já disse algo neste sentido. e escreveu assim falou (ou falava) zaratustra. um livro filosófico e musical. a música me lembra ladeiras. descidas nos subterrâneos da consciência. as palavras escorregam aos acordes dos instrumentos musicais. palavra ganha uma ressonância ímpar. quando ouço lamento sertanejo, de gilberto gil, tenho vontade de acompanhá-lo na mesma hora. ninguém escreveu caatinga de uma maneira tão deliciosa de pronunciar.

"por ser de lá do sertão, lá do serrado, lá do interior, do mato, da caatinga, do roçado. eu quase não saio, eu quase não tenho amigo...". por mais determinismo geográfico que esta letra traga, é uma bela melodia. e, ademais, fala muito sobre minha própria personalidade.

mas não lamento nem um pouco por quase não falar, não saber de nada...

quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

antes que o ano termine...

não quero mais escrever besteira.
não quero mais fazer besteira.
não quero mais ser uma besteira ululante.
não quero mais escrever a palavra besteira ou qualquer coisa do gênero.
não quero mais ter de explicar porque não faço o que nunca tive vontade de fazer.
não quero mais ser o mesmo sendo sempre o que nunca poderia ter sido.
não quero ter de não querer para dizer o quanto não gosto do que não quero.
não quero não querer o que quero.
por isso quero.
não quero.
querendo...

PS: estas coisas aí em cima não são nem nunca quiseram ser versos. são parágrafos. e só...

sexta-feira, 31 de outubro de 2008

antes que o mês de outubro termine...

estava assim, já me preparando para ir em casa almoçar quando me lembrei que tenho um blog. resolvi ler as últimas linhas escritas. e digamos que me senti à vontade para finalizar este mês dizendo algo de mim.

benz... ontem à noite, antes de pegar no sono com um livro de skinner aberto, estive pensando em retomar meus diários dos momentos. já que tenho tido pouco contato com a internet, a idéia seria escrever mesmo numa folha de papel. mas não sei. não me decidi ainda e não sei se irei me decidir. estou assim assim, como diria aquela poeta... como é o nome dela mesmo? aquela que se jogou do apartamento dos pais, na rua toneleros... ana cristina césar... ana c. anascer.

vez por outra, escrevo uns versos que recitarei nos próximos saraus. mas, definitivamente, a poesia tem se divorciado de mim cotidianamente. que fim trágico! as necessidades emergenciais atropelam tudo. estou naquela fase em que o melhor é deixar para amanhã. ou depois de amanhã?

estou dormindo muito e vivendo pouco. com tendências a viver jogado pelos cantos, como um cão morto. outro dia vi uma cena que mexeu com meu estômago burguês. um mendigo carregando pra cima e pra baixo um cachorro morto. impossível não mergulhar no ser animal que há em mim.

enquanto isto, eu desfilo nos corredores da vida com minha mochila a tiracolo, meu copo de água limpa, transparente e gelada, meus versos escritos sobre a mesa da lanchonete, à vista das meninas bonitinhas que se vêem nas passarelas da petrolina fashion week. chega de tanta letargia!

de tanta hipocrisia, de tanta falação, oração, canção... meu coração parece o rosto sem vida daquele homem. ou daquele cão?

terça-feira, 16 de setembro de 2008

ficou cada vez mais difícil escrever por aqui...

e em outros lugares também. resolvi parar um pouco de verborragiar e passei a contemplar muito mais. agora estou lendo com uma freqüência irreconhecível. voltei a ler poesia, veja só... a tanto tempo que não pegava drummond antes de dormir, a tanto tempo que não cochilava com o livro aberto sobre o peito e acordava de manhã cedo com a luz do quarto acesa, o olho pesado, o pesadelo...

passei a me preocupar mais também. com a entrega dos trabalhos, a prova de genética, de análise experimental, o relatório do projeto de pesquisa, os slides, o pôster. não o de che. este eu deixei guardado. verdade seja dita: ainda não tive nem tempo de abri a bandeira de minha cidade na perede de meu quarto. agora querem que eu discurse no último comício de meu pai. e eu não sou (nem nunca fui) o homem dos discursos, das palavras jogadas ao vento, da elevação de voz, do peso frio do microfone. mais um desafio.

mais uma preocupação. como faço para escrever o que deve ser escrito? uma frase é uma sucessão de palavras ou de sentimentos? como sangrar em cada frase e, mesmo assim, não se ferir? como explicar o que penso sem me tornar explicativo? lá no fundo, tudo está dito, posto que tudo é silêncio. dentro de cada ser humano mora um poema, mas nem todo mundo é poeta. poesia é a contemplação da ressonância interior...

terça-feira, 2 de setembro de 2008

um ponto fixo...

eu tenho tanta coisa pra fazer que consigo me dar ao luxo de não fazer nada. ficar paralisado, olhando para um ponto fixamente até voltar a fazer o que eu, eita!, ainda nem tinha começado a fazer. um me pede um favorzinho de um lado, outra pede para eu quebrar o galho (não com estas palavras) de outro. tem apresentação de projeto de pesquisa, atividade de aula, relatório, resumo... se eu me lembrar de tudo termino ficando pirado, quer dizer, parado num ponto fixo, completamente paralisado. como este ponto aqui.

aí vem os fios, o cheiro na mão, as lembranças dispersas, a falta de concentração. já vi que não consigo me fixar na leitura antes de dormir. o sono logo desce e me leva à lona, com um nocaute técnico. não dá tempo nem de jogar a toalha no chão. ando me escondendo de tudo isto e de mais um pouco. sou ana o. saindo de cena ante uma situação traumática.

todas as coisas agora parecem carecer de uma continuidade. deixo para corrigir depois, meus erros imperdoáveis. ficam aí sangrando como um peito aberto por unhas afiadas. amanhã é dia de ultrassonografia, de leitura na penumbra da clínica, olhos disputando a atenção com a tv globinho, atendente sem pressa, médica atrasada, paciente querendo fular a fila, torcendo para eu desistir. não vou. sou brasileiro, e isto não significa lá muita coisa, ainda mais sem grana e sem gana.

quem desiste não pára, já dizia um zé ninguém...

quinta-feira, 28 de agosto de 2008

a vida é um jogo...

me olhando no espelho do banheiro descobri que a vida é um jogo... olhando para estes olhos vermelhos de sono, este meu estado deplorável, sem camisa, sem presente, descobri, de repente, que a vida é um jogo... passando as mãos em meus cabelos sebosos, entre a divisão e os fios mais grossos, descobri, sem remorso, que a vida é um jogo... como foi que eu passei 21 anos sem saber?

eu virando a noite aqui, na sala do projeto de pesquisa. rodeado de coisas pra fazer, de textos para por os pingos nos is, de histórias para inventar, de ilusões. levantei para não ficar sentado, e logo em seguida descobri uma vontade de mijar. fui ao banheiro, mas antes da privada tem o espelho, a sedução narcísica, este olhar auto-contemplativo. eu tinha de admirar minha ação corajosa, meus olhos vermelhos, meu peito à mostra, meus cabelos despenteados. eu tinha de descobri que, minha nossa!, a vida é um jogo...

já imbuído desta verdade última, mijei vagarosamente em cima de outro mijo ou de alguma coisa que me fez lembrar que alguém, antes de mim, mijou ali. para não acordar as assombrações, resolvi não puxar a corda da descarga. saí do banheiro decidido a compartilhar com todo mundo esta minha descoberta individual, que a vida, pode crer cara!, é um jogo... é um jogo reticente, mas não deixa de ser. a vida se diverte demais com a gente. a vida ri da nossa insuficiência, insistência, inoperância e tantas outras palavras que compartilhem significados afins. a vida ri, principalmente, de si. a vida se ri.

a gente deveria aprender alguma coisa da vida. dá tempo? hum... deixe-me ver: amanhã de manhã tenho reunião. sim, nesta sala em que estou varando a madrugada. à tarde tenho aula. à noite tem um festival. estou aguardando uma resposta para saber se posso ou não participar de um encontro de uma galera que quer fazer um grupo de teatro. à tarde, imprevisível. depende desta resposta anterior, mas também seria bom eu ir à tarde acompanhar as atrações de um festival que, oficialmente, começa à noite. sim, à noite tem o festival. e no outro dia tem sarau.

cadê o tempo mesmo? o tempo de aprender alguma coisa na vida meu velho... parece que a gente só aprende a lidar, a encarar e a superar a vida. ou seja, a gente só aprende a morrer. todo dia temos a oportunidade de escolher entre mais um ou menos um dia. todo dia temos a oportunidade de dormir na mesma cama ou de virar a noite rindo, da vida que aprendemos a viver (ou a jogar?). vou repetir pela última vez: pensando bem, não vou repetir mais não. vou terminar de fazer as coisas que ainda estão me aguardando.

uma professora me disse que eu ando escrevendo muito gerúndio. que absurdo!